sábado, 3 de dezembro de 2011

Eu bebo socialmente


A frase que compõe o título acima é utilizada com freqüência nos meios sociais. É possível que alguém possa fazer uso de bebidas alcoólicas, sem se tornar viciado, mas, geralmente, essa frase é uma maneira de mascarar a dependência que já se instalou sob o disfarce social assumido. O alcoolismo é um vício.
A palavra vício, de origem latina, significa defeito que torna a coisa imprópria para o uso a que se destina. O vício é um defeito moral ou orgânico grave que torna uma pessoa dependente de uma conduta ou costume censurável prejudicial a si mesma ou à coletividade (Dicionário de Filosofia Espírita - CELD-1997).
Usualmente, utilizamos a palavra para referir-nos ao estado que decorre do uso de uma substância tóxica ou narcótica e que pode se transformar em toxicomania, gerando impulso irresistível para o consumo da droga. O vício, ou toxicomania, caracteriza-se por uma necessidade compulsiva de continuar o uso da substância tóxica, pela tendência de aumentar progressivamente as doses e pela dependência psíquica e às vezes física dos seus efeitos em que fica o seu viciado. A suspensão da droga dá lugar ao que, em Medicina, chama-se síndrome de abstinência, estado mórbido, caracterizado por tremores, vômitos, diarréias, dores várias, delírio, colapso, excitação.
Desde a mais remota antiguidade, podemos encontrar, em todos os povos, o hábito de consumir alguma bebida de fermentação. Em certas culturas, tal hábito fazia parte dos rituais sociais, religiosos ou de feitiçaria, pelo estado de euforia provocado, que, segundo as tradições culturais, permitiria alcançar uma relação com a divindade e o entendimento dos seus mistérios e desígnios. É preciso considerar, contudo, que, mesmo nessas culturas, embora o uso fizesse parte de seus rituais, o abuso dessas bebidas sempre foi condenado. A civilização trouxe consigo a substituição das bebidas de fermentação pelas de destilação, que acentuaram os malefícios do álcool, inserindo-o entre as substâncias capazes de provocar a toxicomania. O álcool é uma substância tóxica que deprime os centros nervosos. O alcoolismo é um dos graves problemas do mundo moderno.
Os principais efeitos do alcoolismo se fazem sentir na esfera da ética e da moral. O indivíduo vai se tornando, aos poucos, inconveniente, perde a compostura e ocasiona sérios distúrbios interpessoais. As dificuldades provocadas podem ser facilmente imaginadas: um sem-número de acidentes, a redução da produtividade, a proliferação de doenças físicas e mentais e também a dissolução da vida familiar com todo o seu cortejo de sofrimento.
O consumo de aguardente, vinho, cerveja e outras bebidas, aceito socialmente, pode levar à dependência. É difícil estabelecer o limite entre o consumo inofensivo e o vício. As pessoas com predisposição para o vício têm, nesse uso socialmente aceito, a porta de entrada para o alcoolismo, que se torna, então, verdadeiramente, uma doença. Na sua fase aguda, o alcoolismo caracteriza-se pela embriaguez, cujos efeitos danosos à vida familiar e social são fartamente conhecidos.
As doenças mais freqüentemente provocadas pelo alcoolismo são a gastrite, a polineurite, a cirrose do fígado e a pancreatite. Podem-se relatar ainda as perturbações cardíacas, as alucinações, a degeneração cerebelar, os tremores e a alternância entre períodos de excitação e depressão que levam à loucura, terminando invariavelmente em decadência progressiva do indivíduo. Os desequilíbrios não se limitam ao indivíduo que faz uso da bebida, seus descendentes são também atingidos por anomalias físicas e psíquicas.
A predisposição para o vício, do ponto de vista espírita, leva-nos a pressupor que, em vidas anteriores, o indivíduo tenha sido um alcoólatra. Ao renascer, o planejamento traçado é de resistência a essa propensão, pelo exercício da boa vontade. Motivos variados podem, contudo, ser o empurrão para que o indivíduo caia na armadilha do vício novamente. Alguns se reportam ao estado de descontração e alegria que motiva as relações sociais, outros mencionam a necessidade de libertação dos problemas que amargam a vida, outros ainda alegam a frustração e carências afetivas originadas na infância. Sejam quais forem os motivos, precisamos lembrar a informação que os Espíritos deram a uma questão extremamente pertinente formulada por Allan Kardec:
"Para certos homens, o meio onde se acham colocados não representa a causa primária de muitos vícios e crimes? Sim, mas ainda aí há uma prova que o Espírito escolheu quando em liberdade, levado pelo desejo de expor-se à tentação para ter o mérito da resistência."
Quando avaliamos os motivos pelos quais alguém se deixa levar a essa situação de dependência tão dolorosa, não podemos esquecer a influenciação por Espíritos inferiores que tenham sido alcoólatras, quando encarnados. Esses indivíduos viciados, ao desencarnarem, não se libertam miraculosamente do vício. Alguns se conscientizam e se submetem ao tratamento necessário à própria libertação, mas outros se mantêm vinculados ao desejo de beber e buscam, então, dentre os encarnados, aqueles que revelem predisposição para o alcoolismo. Incentivam o uso da bebida por sugestões mentais e, quando conseguem seu intento, estabelecem estreita ligação psíquica com aquele que se deixou influenciar e passam a usufruir as emanações do álcool que ele libera quando se embriaga.
Qualquer vício ocasiona a antecipação da morte e é, por isso mesmo, uma forma de suicídio, mas a cura do alcoólatra pode dar-se, se ele manifestar o sincero desejo de libertar-se do problema. Toda a família precisa apoiar a iniciativa dele e ajudá-lo, porquanto a fase de desintoxicação é muito difícil e exige grande dose de determinação, para ser ultrapassada com êxito. O tratamento deve ser efetuado por médicos, e, em alguns casos, com internação em estabelecimentos especializados. Cuidados especiais são necessários, depois que o indivíduo recebe alta, porque as recaídas são muito freqüentes. Considerando a intervenção de Espíritos inferiores que também compõe esse quadro, o tratamento espiritual deve ser simultâneo ao tratamento clínico, a fim de que se garanta o retorno ao equilíbrio e a manutenção da estabilidade.
Diante do que aprendemos no estudo espírita, não podemos continuar mantendo a atitude infantil de desculpar nossos erros, apontando as circunstâncias que nos envolvem. Ao mergulhar na atmosfera do vício, estamos cedendo a impulsos que nascem dentro de nós mesmos. São impulsos fortes, porque se enraízam em condicionamentos estabelecidos pela sistemática repetição dessa ação em vidas passadas. Contudo não podemos considerar isso uma fatalidade, ao contrário, a reencarnação se dá justamente como possibilidade de utilização da vontade, para a libertação e para o crescimento. O que está dito em relação ao alcoolismo presta-se também à aplicação em situações criadas por outras viciações. É possível resistir ao arrastamento do vício, podemos fazê-lo, buscando a ajuda dos bons Espíritos pela oração. Eles jamais se negam a fornecer-nos os recursos necessários. 


Fonte: Reformador - FEB - Janeiro/2001
Dalva Silva Souza

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