
Hoje
esse trajeto é feito pelas barcas da Ribeira até terminal marítimo de Plataforma.
Aliás o nome do bairro teria surgido por conta da
existência de uma balsa no formato de uma "plataforma flutuante", que
fazia a travessia marítima das pessoas entre Plataforma e Ribeira, na época em
que outros meios de transporte, como ônibus e trem, eram precários ou não
existiam.
Painho era motorista de táxi, e tinha seu próprio veículo, porém
numa dessas crises, ele teve de vender o carro, na época minha visão de venda
de alguma coisa era num balaio sobre a cabeça, então eu ficava imaginando o
painho com o carro num balaio sobre a cabeça.
Depois de vender o carro, painho continuou como motorista de taxi,
porém para terceiros, na minha recordação tem viagem da minha casa na rua Vítor
Meirelles no Garcia, até a Praça Castro Alves no centro de salvador. Lá ficava
aguardando painho fazer a primeira corrida do dia para termos dinheiro para
comprar comida para o almoço.
Uma dessas corridas foi para o aeroporto de Salvador, e como painho
sabia que era muito demorado perguntou ao passageiro se podia levar o filho, eu
tinha dez anos e fiz a corrida da Praça Castro Alves até ao aeroporto, que na
época só era realizada pela orla. Desde farol da barra até Itapuã, nunca me
esqueci desse dia nem desse passeio.
Pedro Apóstolo de Souza, esse era o nome dele, pouco parava em
casa, pois sua atividade de motorista de táxi lhe tomava todo o dia e até parte
da noite. Quando tinha que trabalhar a noite e folgava durante o dia para
descansar era o momento de estarmos juntos. Num desses momentos minha irmã se
acidentou na beira de um riacho, cortando o pé num caco de vidro, tendo que ser
socorrida no pronto socorro para levar pontos. Nunca me esqueço do choro da
minha irmã no atendimento. Em outra ocasião ele me ensinou a dividir por dois,
são momentos impares junto ao meu painho.
Daí para a frente a coisa ficou muito ruim, mainha tinha que lavar
para fora para ajudar no sustento da casa, painho passou a beber e chegar em
casa embriagado e a agredir a todos nós. Assim batemos em retirada para o Rio
de Janeiro em fevereiro de 1963.
Em julho de 1974, em viagem de lua de mel a Salvador procurei por
ele e consegui um encontro. Ele trabalhava numa padaria da Ladeira do Pelô e
até fez o translado do hotel até a rodoviária no meu regresso. Em 2003 estive
em salvador com minha irmã para tentar encontrar painho, minha irmã havia
morada por um tempo com painho, e queria revê-lo. Pegamos um táxi e rodamos
pelo Nordeste de Amaralina por um bom tempo, contando com a boa vontade do
taxista, achamos a casa onde ele morava, foi aí que ficamos sabendo de sua
morte possivelmente vítima de infarto.