sábado, 14 de janeiro de 2017

PAINHO DE TITO E LINDA

Não sei sua data de nascimento, não sei ao certo onde nasceu, sei que seus irmãos moravam em Plataforma um subúrbio ferroviário de Salvador, para onde eu ia passar férias de verão, recordo que na época utilizávamos um trem que sai da central leste brasileiro, uma espécie de Central do Brasil da Bahia e chegávamos na estação Almeida Brandão.
Hoje esse trajeto é feito pelas barcas da Ribeira até terminal marítimo de Plataforma. Aliás o nome do bairro teria surgido por conta da existência de uma balsa no formato de uma "plataforma flutuante", que fazia a travessia marítima das pessoas entre Plataforma e Ribeira, na época em que outros meios de transporte, como ônibus e trem, eram precários ou não existiam.

Painho era motorista de táxi, e tinha seu próprio veículo, porém numa dessas crises, ele teve de vender o carro, na época minha visão de venda de alguma coisa era num balaio sobre a cabeça, então eu ficava imaginando o painho com o carro num balaio sobre a cabeça.

Depois de vender o carro, painho continuou como motorista de taxi, porém para terceiros, na minha recordação tem viagem da minha casa na rua Vítor Meirelles no Garcia, até a Praça Castro Alves no centro de salvador. Lá ficava aguardando painho fazer a primeira corrida do dia para termos dinheiro para comprar comida para o almoço.

Uma dessas corridas foi para o aeroporto de Salvador, e como painho sabia que era muito demorado perguntou ao passageiro se podia levar o filho, eu tinha dez anos e fiz a corrida da Praça Castro Alves até ao aeroporto, que na época só era realizada pela orla. Desde farol da barra até Itapuã, nunca me esqueci desse dia nem desse passeio.
Pedro Apóstolo de Souza, esse era o nome dele, pouco parava em casa, pois sua atividade de motorista de táxi lhe tomava todo o dia e até parte da noite. Quando tinha que trabalhar a noite e folgava durante o dia para descansar era o momento de estarmos juntos. Num desses momentos minha irmã se acidentou na beira de um riacho, cortando o pé num caco de vidro, tendo que ser socorrida no pronto socorro para levar pontos. Nunca me esqueço do choro da minha irmã no atendimento. Em outra ocasião ele me ensinou a dividir por dois, são momentos impares junto ao meu painho.
Daí para a frente a coisa ficou muito ruim, mainha tinha que lavar para fora para ajudar no sustento da casa, painho passou a beber e chegar em casa embriagado e a agredir a todos nós. Assim batemos em retirada para o Rio de Janeiro em fevereiro de 1963.

Em julho de 1974, em viagem de lua de mel a Salvador procurei por ele e consegui um encontro. Ele trabalhava numa padaria da Ladeira do Pelô e até fez o translado do hotel até a rodoviária no meu regresso. Em 2003 estive em salvador com minha irmã para tentar encontrar painho, minha irmã havia morada por um tempo com painho, e queria revê-lo. Pegamos um táxi e rodamos pelo Nordeste de Amaralina por um bom tempo, contando com a boa vontade do taxista, achamos a casa onde ele morava, foi aí que ficamos sabendo de sua morte possivelmente vítima de infarto.