Em 17 de abril de
1955,
Albert Einstein
(1879-1955), o grande físico alemão, foi internado em decorrência da ruptura de
um aneurisma da aorta abdominal. Anteriormente, em 1948, já havia sido operado
por ameaça de problema semelhante. Fazia-se necessária nova cirurgia, com
urgência, complicada e imprevisível, em face de sua idade, mas Einstein recusou-se,
dizendo:
É de mau gosto ficar prolongando a vida
artificialmente.
Eu fiz a minha parte, é hora de partir e vou
fazê-lo com elegância.
Na manhã do dia
seguinte desencarnou, aos 76 anos, após uma existência dedicada à Ciência,
trabalhando sempre, até o último suspiro.
Interessante e
sugestiva a expressão de Einstein: morrer com elegância.
O leitor perguntará
se é possível ser elegante diante da grande ceifeira, já que as pessoas costumam
agarrar-se com unhas e dentes à vida física, em bases de daqui não saio,
daqui ninguém me tira.
Terminam por serem
literalmente despejadas pela implacável senhora, que não dá a mínima para
seus apelos, expulsando-as do corpo, a transformar-se numa casa em ruínas.
Lamentável essa
inútil resistência, já que tudo o que o paciente conseguirá será prolongar a
própria agonia.
Melhor, meu caro
leitor, soltar-se, partir com elegância.
Na atualidade, os
recursos da Medicina, extremamente sofisticados, podem prolongar a vida de um
paciente terminal por dias, semanas e até meses, nas UTIs –Unidades de Terapia
Intensiva.
Dificuldade para
respirar?
Intubação.
Acúmulo de secreção,
ameaçando sufocar o paciente?
Traqueostomia.
Não consegue comer?
Alimentação
parenteral.
Rins paralisando?
Hemodiálise.
Coração fibrilando?
Eletrochoque.
Isso tudo torturando
o paciente solitário na UTI, ambiente gelado, fios por todos os lados, tubos
garganta adentro, dores no corpo pela imobilidade, escaras apontando, sensação
de horror em momentos de despertar…Por que tal empenho, por que essa batalha
inglória? Resposta simples: é para atender ao decantado respeito humano,
que impõe um combate sem tréguas à indesejável senhora, mesmo sabendo que se
está investindo numa causa perdida, com ônus emocionais para todos,
principalmente para o paciente.
Se é terminal, por
que submetê-lo a torturas inúteis?
A UTI fica bem para
pacientes que podem estar correndo risco de morte em virtude de acidentes,
enfartos, infecção, ou que precisem desse tipo de assistência após uma cirurgia,
mas não são terminais.
Diante de um paciente
idoso, câncer disseminado, prestes a sofrer uma falência múltipla dos órgãos, o
médico conversou com a família:
– Se o internarmos na
UTI poderemos mantê-lo vivo por algum tempo, mas em coma induzido, com toda a
parafernália que ali é utilizada. O que faremos?
A família,
acertadamente, optou por mantê-lo em casa.
Dois dias depois
faleceu, amparado pelo carinho e a solicitude de seus entes queridos.
Veja bem leitor
amigo: não se trata de abreviar a vida de um paciente, o que seria crime de
eutanásia, mas de não segurar artificialmente alguém que está partindo.
Esse procedimento é
hoje admitido pela Medicina, caracterizado como ortotanásia,a morte sem dor. Se
o paciente é terminal, que lhe proporcionemos o conforto necessário, minorando
seus padecimentos com medicação apropriada, mas suspendendo a utilização de
recursos que apenas prolongarão seus padecimentos.
É algo para pensar,
leitor amigo.
Se concorda comigo,
será interessante conversar com familiares sobre o assunto, a fim de que,
quando chegar sua vez de bater as botas, seus entes queridos superem o
enganoso respeito humano, que impõe medidas desesperadas que delongam a
libertação da alma. Assim você poderá retornar ao mundo espiritual de forma elegante,
como Einstein.
Ricard Simonetti
Revista Reformador_setembro_2014